quarta-feira, 17 de junho de 2009

UM CAPÍTULO AVULSO

Segue a minha primeira e única tentativa até agora de escrever alguma estória de ficção. O resultado não ficou de todo mal, mas até hoje, um ano depois, não havia aberto este arquivo novamente.
Não sei que horas são. Mas é noite. Madrugada. Estou dentro desta caixa de metal, revestida de plástico, para me dar essa falsa sensação de conforto e bem estar. Chacoalha muito, está escuro e pessoas gritam. Eu permaneço em silêncio, sem em nada pensar. Apenas ocupando minha mente com o que vejo. De repente, um tranco maior que os anteriores. Tudo muito rápido. O ferro e plástico se contorcem, esmagando meu corpo. Sinto dificuldade em respirar, e isto não me faz pensar na dor. O barulho do ar sufoca os gritos e sei que agora vem a pior parte. Da escuridão surgem um amarelo e laranja escaldantes, vindo em minha direção. Tento retirar o cinto, como se isto fosse resolver alguma coisa. Me movimento de forma frenética. O fogo está por toda parte. Quero fechar os olhos, mas a verdade é que já não enxergo. Só sinto o vermelho do calor. Não penso em minha vida, nem nos entes queridos. Só rogo que aquilo acabe logo. A dor é insuportável. E é assim que as coisas seguem até o final.
Abro os olhos. O silêncio da noite é interrompido pelo comandante, que diz que em 30 minutos chegaremos ao destino. Cara, definitivamente não nasci pra voar.
FATOS QUE ME VIERAM À MENTE DURANTE O VÔO:
Nunca disse a frase "eu te amo".
Minha primeira transa antecedeu meu primeiro beijo.
Isto mesmo. Pode ler de novo.
Não deixei pra trás nada que pudesse deixar saudades.
Em 33 anos não descobri nenhum talento que por ventura poderia ter.
Sinto que desperdicei até aqui
33 anos,
396 meses,
11.880 dias,
285.120 horas,
17.107.200 minutos,
1.026.432.000 segundos.

Desembarquei de camiseta. A sensação de frio me lembrava que esqueci de colocar uma blusa na bagagem de mão. Ao entrar no avião, sentia o calor de um local conhecido. Agora, ao sair, sinto o frio do desconhecido. Por todos os lados, ouço o som de um idioma que apenas conheço dos filmes. Sinto-me estranho. Olho para o relógio, que ainda marca o horário de casa. Sinto um embrulho no estomago. Pergunto-me se tomei a melhor decisão.

2 comentários:

  1. PQP Valtão... agora eu sei pq vc treme tanto... e eu pensando que era falta de cachaça...

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  2. Estes post`s tinham que ter uma tecla SAP...

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